por Jomázio Avelar
Parece sonho o motivo do encontro noticiado de que o Brics se reunirá em Washington dia 22. Jamais seria imaginado no passado que a Europa, cuja história de glórias, cultura, conforto, finesse, que afinal por tanto tempo conduziu o mundo, viesse a necessitar de ajuda dos países emergentes. O que sempre se leu e ouviu foi que os países emergentes e os subdesenvolvidos não administravam bem suas economias, seus governos, isto comparado com os regimes europeus.
Dois empreendimentos devem ser trazidos para análise a fim de oferecer algumas explicações da mencionada situação: a unificação europeia e a globalização. O primeiro sempre se afigurou de arrojo incomensurável envolvendo todos os aspectos, os econômicos, sociológicos, culturais, e finalmente os políticos. A unificação começou com cinco países, depois estendeu-se para doze e finalmente vinte e cinco. Benesses jamais vistas ingenuamente objetivando homogeneização dos padrões econômicos de países como Portugal, Espanha, Grécia, Turquia, com investimentos a fundo perdido para construir infraestrutura. Regras foram estabelecidas sujeitando todas as economias do bloco. Tratados diversos foram assinados, muitos deles submetidos a referendo individualmente em cada país com rejeição por diversos, culminando com a tentativa fracassada de referendar um projeto de Constituição para a Federação Europeia. Esse gigantesco empreendimento em fase de implantação sem a devida tratativa da concepção, vale dizer experiência única pelo porte e natureza na história da humanidade.
O segundo foi formulado e lançado a nível internacional pelos EUA e Inglaterra nos governos Reagan e Thatcher, usufruindo de condição tecnológica da informatização e automação coincidentes com a aplicação dos microcomputadores em rede mundial levando as chamadas comunicações em tempo real de velocidade, precisão, resolução jamais vistas. Esse também gigantesco empreendimento está implantado sujeitando a humanidade a processos de consequências ainda não compreendidas, e reduzindo a períodos cada vez menores a distância entre os episódios inovadores de tecnologia.
Diante de empreendimentos tão grandes em implantação e gerenciamento e com mudanças nada menores acontecendo no país império da atual era, assusta a notícia de que Brasília, pelas palavras de Guido Mantega, informava que os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se reunirão para avaliar como poderão socorrer a Europa.
A notícia parece informar por parte do Brasil pretensão descabida. O Brasil não tem porte nem força econômica para tal propósito, e ao se propor a tanto desvia-se de seu real papel como nação de preparar-se para tirar melhor proveito da situação. Esquece-se de que o Governo Federal sofre da mesma doença dos países europeus, deve muito e paga muitos juros (R$ 229,5 bilhões em 2010) para quem não tem recursos para construir a infraestrutura que muito contribuiria para reduzir o “custo-Brasil”, o que daria maior competitividade aos produtos brasileiros, juntamente com outras medidas, como instrução do povo e reformas estruturais a muito recomendadas e inadiáveis, para fortalecer a economia brasileira e gerar reservas provenientes da produção como faz a China, e não como o Brasil que gerou reservas às custas do crescimento da dívida pública interna.
Assim, parece à esta modesta opinião que melhor seria ficar quieto, observar, fazer o dever de casa, e fundamentalmente limitar-se a fazer o que pode como país. Por que ajudar a Europa, quando Brasil não participou da decisão de unificar a Europa ou dos descuidos dos EUA? Algum país veio socorrer o Brasil quando se batia com a inflação? O caminho é deixar a vaidade e ingenuidade de lado, “baixar a bola” e adotar políticas fiscais e monetárias responsáveis, administrar adequadamente o endividamento, garantir a estabilidade dos investimentos e preservar a confiança dos investidores.
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