A engenharia, a arquitetura e a agronomia são atividades complexas, cujos profissionais, uma vez concluída a graduação, deveriam praticar, para atingir a excelência, um mínimo de 10 000 horas de treinamento ativo e contínuo em empresas ou instituições correlatas para atingir determinado padrão tecnológico de excelência. O cérebro precisa desse tempo para assimilar tudo o que é necessário – aliás, assim como no caso do compositor, esportista, escritor, pianista, médico, advogado e outros. Dez mil horas equivalem a cerca de 20 horas por semana durante dez anos.
Eles são os profissionais que se ocupam da concepção de soluções, elaboração dos projetos correspondentes, implantação de empreendimentos em todos os setores do sistema produtivo. A sólida formação teórica dada pelas boas universidades já é um curso pesado para eles, enquanto ainda estudantes, para as famílias que os sustentam até a diplomação, para a sociedade. E, no entanto, é surpreendente constatar que o exercício profissional deles, no geral, tem vida curta – dez a 15 anos – para os que não se preparam para a excelência.
Trata-se do mesmo tempo de treinamento dos que a atingem, pois aqueles têm de sujeitar-se às oportunidades e vicissitudes de mercado, faltando-lhes apoio para investir na sua profissão. Após o esforço e os investimentos para formação, os profissionais ficam sem o amparo mínimo necessário.
A consequência é serem obrigados a aceitar outra ocupação como saída para se manterem. Nessa situação, têm perdido os profissionais, as empresas, a sociedade – tudo convergindo para o baixo retorno do investimento realizado na formação deles, razão de tornar essas profissões menos atraentes ultimamente. É desperdício inaceitável num país ainda pobre como o Brasil.
O recém-diplomado não alcançará o nível de excelência por conta própria, sem apoio e incentivo da família ou de alguma instituição. Tem de dispor de ajuda porque, se houver descontinuidade, não cumprirá o necessário treinamento. Após dez anos, na plenitude da competência adquirida e da experiência acumulada, as carreiras poderão se alongar por mais até 40 anos, fase profissional em que têm conhecimento e maturidade indispensáveis para elevados desempenhos de competência e excelência.
Assim, os atuais 950 000 profissionais do sistema Confea/Crea’s, em seu conjunto, se tivessem tido competente preparação para aproveitar as oportunidades, atenderiam ao padrão de desempenho requerido pelo país, ao contrário da atual escassez, lucidamente evidenciada nos artigos do professor José Pastore, da FEA/USP, e do professor Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP (O Estado de S. Paulo – 20/07/2010), e também do Dr. Rui Altenfelder (Folha de S. Paulo – 01/08/2010). Na realidade, o cenário é, portanto, de escassez de excelência, porém com abundância de apenas diplomados.
As empresas, as entidades de classe e instituições como o Instituto de Engenharia, o sistema Confea/Crea’s, o Sindicato dos Engenheiros, a Mútua, a EngeCredSP e as diversas Associações de profissionais, podem contribuir para a solução de evitar que os profissionais tenham que abandonar seu mercado de trabalho. Uma vez que, com instabilidade de atividades (“voo de galinha”), essas instituições pouco podem fazer, elas devem objetivar manter nível mínimo de investimentos no setor, por meio de suas influências políticas junto aos centros decisórios.
Seria a reversão do que se constata, nos últimos 25 anos, com investimentos públicos federais orçamentários inexpressivos de 15 bilhões de reais por ano, para todo o país.
Os profissionais também podem fazer sua parte: juntamente com as empresas e demais instituições, associar-se às cooperativas de crédito, já em operação em Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Tocantins, Goiás e São Paulo e as que poderão ser fundadas ainda, para disponibilizar, com capilaridade, apoio financeiro para os profissionais realizarem investimento na própria carreira, e assim estarem preparados para as oportunidades, como quadros técnicos longevos, com experiência e maturidade, e tecnologicamente habilitados. O padrão tecnológico de um país é expresso pela competência e excelência de seus profissionais.
Assim, com orientação adequada de carreira e financiamento para educação continuada, as empresas e os profissionais, legítimos parceiros, assumiriam a autoria dos investimentos indispensáveis para a geração do padrão tecnológico necessário para assegurar elevada produtividade e competitividade brasileiras em face das demais nações, vista a importância da engenharia, arquitetura e agronomia na composição do crescimento do PIB, fortalecimento da economia, na qualidade de vida e do bem-estar geral da população – em síntese, do progresso. (Fonte: www.brasilengenharia.com.br)
* Jomázio Avelar é engenheiro civil, presidente da EngeCredSP, e presidente da Evaldo Paes Barreto Engenharia Ltda. E-mail: jomazio.avelar@engecredsp.com.br