terça-feira, 24 de maio de 2011

O emprego do tempo

Autor: Sêneca
Livro: As relações humanas: as amizades, os livros, a filosofia, o sábio e a atitude perante a morte.



Carta I

O emprego do tempo

Sim, meu caro Lucílio, reivindica a propriedade da tua pessoa; recolhe e põe em segurança o tempo que até agora te foi subtraído, roubado, ou que tu deixavas escapar. Acredita-me, as coisas se passam exatamente como estou dizendo: alguns momentos nos são arrancados, outros escamoteados, outros mais nos escorrem pelos dedos. Todavia, a perda mais escandalosa é a que sofremos devido à nossa negligência. Se prestares bastante atenção, verás que passamos a maior parte da vida fazendo as coisas mal, uma boa parte sem fazer nada, e toda a nossa vida fazendo algo distinto do necessário. Cita-me um homem que saiba dar ao tempo o seu prêmio, reconhecer o valor de um dia, compreender que morre a cada dia. Nós nos enganamos quando pensamos ver a morte diante de nós: ela já está em grande parte atrás de nós. Tudo o que pertence ao passado é do âmbito da morte. Portanto, meu caro Lucílio, age como dizes na tua carta: se o proprietário de todas as tuas horas. Serás menos escravo do amanhã, se te tornares dono do presente. Enquanto a remetemos para mais tarde, a vida passa. Nada, Lucílio, nos pertence; só o tempo é nosso. É o único bem, fugitivo e submetido ao acaso, que a natureza nos deu: no entanto, qualquer pessoa pode privar-nos dele.

Vê como os homens são tolos: aceitam que lhes sejam contados como grandes serviços os favores mais ínfimos, mais miseráveis e que não tem nada de insubstituível; mas ninguém se julga devedor do que quer que seja se lhe é dado tempo, ao passo que este é o único favor que não se pode dar mesmo com o reconhecimento.

Talvez me perguntes o que faço, eu que te dou conselhos. Eu te responderei francamente: não posso assegurar que não perco nada, mas posso dizer o que perco, como e por quê. Posso aperceber-me da minha pobreza. Mas a maior parte dos que passam necessidades sem serem responsáveis por isso são desculpados, mas nunca auxiliados. Como concluir? Ao meu ver, o homem que se satisfaz com o pouco que lhe resta não é pobre; mas quanto a ti, prefiro que conserves o que possuis: começarás a servir-te disso em tempo útil. Lembra-te deste ditado dos nossos ancestrais: “Já é tarde demais para fazer economias quando se chega ao fundo do tonel: não sobra muita coisa e o que sobre é o menos bom.” Adeus. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tecnologia, investimento indispensável, por Jomázio Avelar


A engenharia, a arquitetura e a agronomia são atividades complexas, cujos profissionais, uma vez concluída a graduação, deveriam praticar, para atingir a excelência, um mínimo de 10 000 horas de treinamento ativo e contínuo em empresas ou instituições correlatas para atingir determinado padrão tecnológico de excelência. O cérebro precisa desse tempo para assimilar tudo o que é necessário – aliás, assim como no caso do compositor, esportista, escritor, pianista, médico, advogado e outros. Dez mil horas equivalem a cerca de 20 horas por semana durante dez anos.
Eles são os profissionais que se ocupam da concepção de soluções, elaboração dos projetos correspondentes, implantação de empreendimentos em todos os setores do sistema produtivo. A sólida formação teórica dada pelas boas universidades já é um curso pesado para eles, enquanto ainda estudantes, para as famílias que os sustentam até a diplomação, para a sociedade. E, no entanto, é surpreendente constatar que o exercício profissional deles, no geral, tem vida curta – dez a 15 anos – para os que não se preparam para a excelência.
Trata-se do mesmo tempo de treinamento dos que a atingem, pois aqueles têm de sujeitar-se às oportunidades e vicissitudes de mercado, faltando-lhes apoio para investir na sua profissão. Após o esforço e os investimentos para formação, os profissionais ficam sem o amparo mínimo necessário. 
A consequência é serem obrigados a aceitar outra ocupação como saída para se manterem. Nessa situação, têm perdido os profissionais, as empresas, a sociedade – tudo convergindo para o baixo retorno do investimento realizado na formação deles, razão de tornar essas profissões menos atraentes ultimamente. É desperdício inaceitável num país ainda pobre como o Brasil.
O recém-diplomado não alcançará o nível de excelência por conta própria, sem apoio e incentivo da família ou de alguma instituição. Tem de dispor de ajuda porque, se houver descontinuidade, não cumprirá o necessário treinamento. Após dez anos, na plenitude da competência adquirida e da experiência acumulada, as carreiras poderão se alongar por mais até 40 anos, fase profissional em que têm conhecimento e maturidade indispensáveis para elevados desempenhos de competência e excelência.
Assim, os atuais 950 000 profissionais do sistema Confea/Crea’s, em seu conjunto, se tivessem tido competente preparação para aproveitar as oportunidades, atenderiam ao padrão de desempenho requerido pelo país, ao contrário da atual escassez, lucidamente evidenciada nos artigos do professor José Pastore, da FEA/USP, e do professor Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP (O Estado de S. Paulo – 20/07/2010), e também do Dr. Rui Altenfelder (Folha de S. Paulo – 01/08/2010). Na realidade, o cenário é, portanto, de escassez de excelência, porém com abundância de apenas diplomados.
As empresas, as entidades de classe e instituições como o Instituto de Engenharia, o sistema Confea/Crea’s, o Sindicato dos Engenheiros, a Mútua, a EngeCredSP e as diversas Associações de profissionais, podem contribuir para a solução de evitar que os profissionais tenham que abandonar seu mercado de trabalho. Uma vez que, com instabilidade de atividades (“voo de galinha”), essas instituições pouco podem fazer, elas devem objetivar manter nível mínimo de investimentos no setor, por meio de suas influências políticas junto aos centros decisórios.
Seria a reversão do que se constata, nos últimos 25 anos, com investimentos públicos federais orçamentários inexpressivos de 15 bilhões de reais por ano, para todo o país.
Os profissionais também podem fazer sua parte: juntamente com as empresas e demais instituições, associar-se às cooperativas de crédito, já em operação em Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Tocantins, Goiás e São Paulo e as que poderão ser fundadas ainda, para disponibilizar, com capilaridade, apoio financeiro para os profissionais realizarem investimento na própria carreira, e assim estarem preparados para as oportunidades, como quadros técnicos longevos, com experiência e maturidade, e tecnologicamente habilitados. O padrão tecnológico de um país é expresso pela competência e excelência de seus profissionais.
Assim, com orientação adequada de carreira e financiamento para educação continuada, as empresas e os profissionais, legítimos parceiros, assumiriam a autoria dos investimentos indispensáveis para a geração do padrão tecnológico necessário para assegurar elevada produtividade e competitividade brasileiras em face das demais nações, vista a importância da engenharia, arquitetura e agronomia na composição do crescimento do PIB, fortalecimento da economia, na qualidade de vida e do bem-estar geral da população – em síntese, do progresso. (Fonte: www.brasilengenharia.com.br)

* Jomázio Avelar é engenheiro civil, presidente da EngeCredSP, e presidente da Evaldo Paes Barreto Engenharia Ltda. E-mail: jomazio.avelar@engecredsp.com.br

terça-feira, 10 de maio de 2011

Soluções inteligentes e duradouras amparadas nos valores de nossas crenças


“Derrotar um inimigo que ameaça nossa visão de mundo, os próprios valores que acreditamos serem capazes de nos proteger, é a maneira mais rápida de acalmar a ansiedade existencial”, citação do psicólogo social Tom Pyszcynski da Universidade do Colorado/EUA.

Parece uma orientação sábia e aplicável a situações de escolhas. As atividades humanas impõem mudanças permanentes tais que a certeza é a incerteza. Decisões que afetam destino de pessoas seja no estabelecimento de missões de instituições, seja nos processos procedimentais, ou mesmo na avaliação de resultados, aplicáveis a bens ou serviços, ou a conhecimentos, implicam estar ancoradas em valores e visão de mundo de cada um dos competidores envolvidos nas escolhas.
Na época atual as realizações precisam estar fundamentadas em projetos auto-sustentáveis; não há espaço para a improvisação, sob pena de comprometer a eficácia do objetivo e a eficiência dos procedimentos.
Nenhum projeto se revela sustentável sem base em pesquisa qualificada que é, na essência, a transformação de dinheiro em conhecimento, e na sequência, a inovação que transforma conhecimento em dinheiro, bem citado pelo ex-vice presidente da 3M, Geoft Nicholson.
Inúmeros problemas podem ser elencados como pendentes de solução. Por exemplo, o tempo de produção de empreendimentos imobiliários na cidade de Sao Paulo chama a atenção e situa-se no âmbito das atividades da Arquitetura e Engenharia a requerer nossa atuação e empenho.
Estudo recente trazido à luz por divulgação da imprensa nos mostra que desde a decisão pela compra do terreno para empreender a implantação de um edifício habitacional até a entrega das chaves, decorrem 83 meses, ou 6 anos e 11 meses.
É efetivamente inaceitável diante de tanta velocidade dos instrumentos de processamento de informações e rotinas, denominados de informatização e automação, causando elevação de custo para compradores dos bens e afetando resultados operacionais das empresas, ambos estes fundamentais no interesse do País.
É um problema que a Arquitetura e a Engenharia tem de resolver pela transformação dos procedimentos e é inadiável visto o prejuízo que causa.
Problemas semelhantes na área da Engenharia Industrial e da Agronomia, bem como na dos Serviços e Comércio, existem e são de nossa responsabilidade dada nossa visão de mundo; dar soluções inteligentes e duradouras amparadas nos valores de nossas crenças.
Os arquitetos e engenheiros, incluindo os agrônomos, em resposta à formação superior que receberam, muitos nas instituições públicas, forçosamente adquiriram visão que os responsabiliza com conduta de cidadão do mundo, quando não de cidadania profissional.
Nessa conduta ele se dá o dever de servir a sociedade no mister de seu saber para geração de produtos de sua especialidade profissional. Por mais desenvolvidas que sejam as corporações empresariais sempre a atividade profissional representa o papel do Artífice, da perícia no fazer com responsabilidade de cidadão profissional.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mercado para engenheiros, arquitetos e agrônomos


A palavra mercado é usada à exaustão na economia pelos analistas, empresários, profissionais, não só para referir-se a produtos e serviços, mas também para ocupação (emprego).
Os profissionais de nível superior tão logo se formam procuram um emprego, objetivando obviamente ocupação.
Ocupação depende de investimento de infra-estrutura: todas atividades dependem de boa infra-estrutura para redução do custo e aumento da velocidade dos deslocamentos de produtos e pessoas.
A economia brasileira (custo-Brasil) peca, por exemplo, por basear os deslocamentos nos veículos rodoviários e aeroviários (energia petrolífera). Na prática não utilizamos deslocamentos por ferrovias e hidrovias ou cabotagem.
O poderio das nações é mais dependente da qualidade da população (educação, saúde, esportes, cultura e lazer) e de investimentos tecnológicos.
Investimentos nos setores que fortalecem o poderio do Brasil produz efeitos de longo prazo (25 anos), porém duradouros e com reflexos diretos na produtividade das pessoas e por conseqüência na produtividade e competitividade geral da economia brasileira.
A "dimensão de mercado-poder de compra" é questão de produtividade e não de massificacão de produtos (tem efeito efêmero).
O mercado para engenheiros, arquitetos e agrônomos é formado por esses ingredientes que devem ser objetivo permanente pelos próprios profissionais na eleição de seus líderes, seja em eleições gerais do País, ou mesmo nas eleições para entidades de classe, entidades de regulamentação (como CREA/SP), nas associações e entidades de profissionais.
Fora do comprometimento com tais responsabilidades pelos profissionais é abandonar-se individual e isoladamente à própria sorte, pois "uma andorinha só não faz verão" e a '"política é uma obra de arte coletiva".