“Não se aprende, Senhor,
Na fantasia
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão, vendo, tratando e pelejando.”
Camões
Os Lusíadas, Canto X, Estrofe 153
As causas da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro precisam
ser identificadas, estudadas e tratadas.
É inaceitável a ausência de providências por parte das autoridades, das
quais não se têm notícias na imprensa, quando já se sabe da morte de no mínimo
15 pessoas. As autoridades são governos
constituídos e o Sistema CONFEA/CREAs.
Faz um ano houve a tragédia de Nova Friburgo/RJ que vitimou
milhares de pessoas. Esse ano, faz
poucos dias, repetiu-se outro deslizamento.
Houve deslizamento sobre estradas nesse mês de janeiro, e por último o
ocorrido com o edifício em São Bernardo do Campo –SP.
Vem de longe: “Gameleira”, “Paulo de Frontin”, “Andraus”,
“Joelma”, deslizamento em Angra dos Reis, “Linha Amarela”, enchentes urbanas,
acidentes rodoviários, etc.
Está havendo banalização de tragédias e também de suas
consequências que são mortes de pessoas, além de prejuízos econômicos. Avaliação de riscos não tem sido prática nas
decisões de empreender. E ainda, a não
divulgação das reais causas dos acidentes têm impedido a Engenharia de evoluir
para enriquecer seu acervo de conhecimentos que possibilite, no mínimo,
preventivamente evitar acidentes futuros, tão graves e do vulto que têm
ocorrido. Prejuízos para os
profissionais e as empresas. Erros, mais
que acertos, possibilitam aprender.
Uma coisa são acidentes, intempéries incontroláveis e/ou
imprevisíveis. Outra são descasos e/ou desleixos sobre condições físicas das
quais é possível ter domínio, controles, ações preventivas (“Moacyr Duarte,
pesquisador da COPPE – UFRJ e especialista em situações de risco, não estranha
o desconhecimento acerca do sub-solo, uma vez que registro de imóvel é ‘fraco
no Brasil’” – O Estado de São Paulo, 29/1/2012).
A sociedade brasileira não pode continuar sem proteção em
decorrência de inação das autoridades.
No caso em tela, Rio de Janeiro, as autoridades estão institucionalmente
responsabilizadas pelos cargos que ocupam; elas dispõem de estrutura técnica
para identificar as causas, e prevenir no futuro. O Sistema CONFEA/CREA-RJ, que tem missão
específica de defender e proteger a sociedade dispõe de recursos financeiros e
técnicos (são 950 mil profissionais no Brasil).
As receitas do Sistema CONFEA/CREAs não provêm de
orçamentos públicos, mas dos profissionais e das empresas que o mantém, e ele
tem a obrigação de habilitar-se técnica e organizativamente para ações preventivas,
visando proteger a sociedade. Os
produtos da Engenharia são para durar séculos e até milênios. Esses prédios que desabaram não tem um século
ainda, e pelo visto as autoridades, pelas divulgações dadas, não dispunham
inaceitavelmente do “as built” e/ou outras informações importantes necessárias para
garantir a segurança das pessoas que os habitavam e para preservar bens
patrimoniais. São responsabilidades
profissionais inarredáveis.
Estavam fazendo, pelo visto, reformas significativas sem a fiscalização
das autoridades? Quem autorizou as obras
de reformas e quem aprovou os projetos respectivos? E se não houve autorização e aprovação a pena a
ser aplicada às autoridades precisa ser mais severa ainda. Os deveres dos cidadãos, impostos principalmente,
são implacavelmente cobrados e recebidos.
O que se coloca, em primeiro plano, é a exposição depreciativa
da profissão dos engenheiros e arquitetos, ao grande público. O zêlo pelo prestígio e reputação da profissão
está relegado. A instituição (Sistema CONFEA/CREAs)
que deve exercer a regulamentação da profissão precisa “recriar-se” para adequadamente
defender e proteger a sociedade (por quantas mortes tem ocorrido, causadas por
desleixo e descaso, culminando com a banalização de acidentes). O que a sociedade brasileira constata é a
completa omissão das autoridades sobre o acidente em tela, repetindo
comportamento sobre ocorrências anteriores.
A imprensa já não fala mais do assunto, passados os dias após
29/01/2012, restando às famílias a dor por perda de vidas e aos proprietários
prejuízos patrimoniais.
Nova postura e novo papel do Sistema CONFEA/CREAs são a
proposição do “Movimento Recriar o CREA- SP”.