terça-feira, 4 de dezembro de 2012

APAGÃO NA ENGENHARIA OU NA POLÍTICA?


Por eng. Jomazio de Avelar, em 30 de novembro de 2012
           
O tema me atrai já há alguns anos, fruto de minhas observações do que ocorre ao profissional da Engenharia.

Constato que é ótima profissão, ou seja tem ocupação e boa remuneração. Porem, depende  do nível de investimento na economia. Vejam-se os períodos dos governos de Getúlio (50 – 54), JK e “Milagre Econômico”, em que engenheiros foram prestigiados e bem remunerados. Nos intervalos entre esses períodos a profissão esteve em baixa. Atualmente clamam pela necessidade desses profissionais, inclusive de que não os temos com boa qualidade.

A imprensa tem trazido algumas manifestações cujo texto divulgamos neste blog com objetivo de enriquecer a discussão, vista a importância do tema.

São três opiniões: a do economista e professor Luiz Carlos Bresser Pereira, do também economista e vice-governador Afif Domingos e um editorial, todos da Folha de São Paulo.

Temos 950.000 diplomados profissionais em Engenharia, Arquitetura e Agronomia, sendo que deles apenas 38% (pesquisa do IPEA) encontram-se no exercício da profissão. Logo, 600.000 profissionais diplomados não estão no exercício profissional.

Os profissionais mudam para outras profissões (administração, bancos, etc) quando não tem mercado na Engenharia. É um desperdício imenso para um país ainda pobre como o Brasil. O profissional se forma, curso pesado para o jovem, para seus familiares e para a sociedade (governos) e no entanto após a formatura falta mercado.

Quem disse que falta engenheiro? Eles estão no Brasil, formados em Engenharia e trabalhando em outras profissões. O Brasil precisa reformar, modernizar e ampliar sua infraestrutura material, aumentar o uso da tecnologia já disponível, construir 1,9 milhões de habitações por ano nos próximos 10 anos. Isso se faz com engenheiros. E eles encontram-se (600.000)fora da profissão.

O engenheiro recebe a formação teórica na Universidade, mas precisa ainda de 10 anos de treinamento nas empresas ou órgãos governamentais para estar preparado. O mesmo acontece em outras profissões.

Então o País (governantes) tem de saber que é necessário disponibilizar as instituições de ensino, porém não é suficiente. Tem que dar o treinamento; assim o engenheiro manter-se-á na profissão, se houver investimento na economia que mantenha o profissional na sua profissão.

É grande o apelo por produtividade, competitividade; o Brasil é o 37° no ranking mundial. Com melhorar a competitividade sem engenheiros? Quem irá inovar? Quem atua em todos os meandros do sistema produtivo que representa 80% do PIB? São os engenheiros!

O Professor Bresser termina seu artigo afirmando “vamos tratar de formá-los e prestigiá-los”. Professor, estamos formando-os, falta desenvolvê-los e mantê-los na profissão.  Temos 600 mil dentro do Brasil, fora da profissão. É obra para os políticos junto com os engenheiros que tem cargos nas entidades de classe.

terça-feira, 8 de maio de 2012

QUE FAZER, ENGENHEIROS?

Por eng. Jomázio de Avelar, em 07 de maio  de 2012


Engenheiro é aquela pessoa que na juventude vislumbrou ter na Engenharia a profissão da qual pudesse manter-se na vida e cuidar dignamente de sua família.

Trata-se de atividades em diversos ramos do mundo dos negócios; abrangem a Engenharia Civil e a Industrial – com enorme quantidade de sub-ramos – que se sujeitam às oscilações do nível de investimentos na economia, públicos e privados. Nos tempos de JK (1955-1960) todos os ramos da Engenharia revelaram-se ótimas profissões. No “milagre” (1970-1980) outra vez da Engenharia. Após 1984 até 2004, as atividades de todos os ramos estiveram em baixa.  Após 2004 um “boom” imobiliário suportado pelo crédito (investimento) possibilitou prestações ao nível do baixo poder aquisitivo da maioria da população: nova alta para os engenheiros civis e também de outros ramos.

A história da Engenharia comprova a ligação direta dos interesses dos profissionais com o nível de investimento na economia. É ótima profissão quando há investimentos; pior quando não há.

Boa formação em Engenharia não é fácil: curso em si pesado para o jovem, dispendioso para a família que tem de custear o estudante em tempo integral de estudos, e caro para o País. Após a formação teórica dada pela Universidade, restam ainda, no mínimo, dez anos de conhecimentos a serem adquiridos pelo engenheiro nas empresas privadas ou órgãos governamentais. A verdade é que no início das atividades profissionais o engenheiro recebe mais do que dá ao empregador; após essa vivência é que passa a produzir com desempenho satisfatório, se teve a possibilidade de atuar continuamente, acumulando conhecimento e experiências, no sentido da maturidade profissional.

No Brasil temos, no geral, boas faculdades. No entanto, tem faltado zelo para o bom desenvolvimento dos profissionais no início da carreira, que é a formação prática, e, na escassez de ocupação, só resta ao engenheiro a alternativa de abandonar a profissão em busca de outra que lhe viabilize os indispensáveis rendimentos. Falta de zelo significa instabilidade no nível de investimentos na economia, o que leva a desvios como a não permanência na profissão, com o que não contavam os engenheirandos e suas famílias quando da opção profissional. E prejudica o País,  preciso diplomar o profissional, mas também mantê-lo na carreira.

O IPEA divulgou pesquisa, a qual revela que apenas 38% dos formados atuam na profissão, ou seja, 62% não a exercem mais. Segundo o CONFEA, há 950 mil formados nas profissões regulamentadas pelo órgão. Isso significa que aproximadamente 600 mil profissionais não atuam mais na Engenharia – desperdício inaceitável, num país ainda pobre como o Brasil.

A presidente da República em entrevista à Veja de 28/03/2012, edição 2262, relata sua conversa com alguns dos maiores empresários do País:  “Eles reclamaram que os impostos cobrados no Brasil inviabilizam as melhores iniciativas e impedem que eles possam competir em igualdade de condições no mundo. Eu concordo. Temos de baixar nossa carga de impostos. E vamos baixá-la. Vamos nos defender atacando... Para isso, temos de aumentar nossa taxa de investimento real para pelo menos 24%. Não dá para consertar a máquina administrativa federal de uma vez, sem correr o risco de um colapso. No tempo que terei na Presidência vou fazer minha parte, que é dotar o Estado de processos transparentes em que as melhores práticas sejam identificadas, premiadas e adotadas mais amplamente. Esse será meu legado. Nosso compromisso com a eficiência, a meritocracia e o profissionalismo”.

Esse é um compromisso assumido pela presidente que deve ser cobrado, principalmente pelos engenheiros, pois trata-se de seus interesses diretos.

É grande a responsabilidade de nossos colegas de profissão e nossos representantes que ocupam cargos de liderança nas diversas entidades representativas da classe. Todos os representados devem exercer sua cidadania profissional pressionando os líderes para cobrar da presidente da República.

Havendo investimentos na economia (24% do PIB) e mantendo-os estáveis, a profissão torna-se mais promissora, menos colegas abandonarão a profissão, contando o País certamente com profissionais mais experientes (mais tempo de carreira) com a probabilidade de aumentar a produtividade da economia e a competitividade dos produtos brasileiros – é o caminho da reindustrialização do Brasil. A inovação é através de produtos, não do câmbio ou tampouco do BNDES, mas com investimentos nas carreiras dos engenheiros, que estão profissionalmente presentes em toda a amplitude do sistema produtivo.

É o engenheiro que cria, desenvolve e aplica a INOVAÇÃO. Um sistema produtivo competitivo requer melhores engenheiros.

Que fazer?

A postura estratégica dos profissionais é pressionar nossos colegas  líderes dirigentes nos órgãos classistas. É benéfico aos profissionais e suas famílias, bem como ao País. Sêneca, no século I, disse: “Se o homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável”. O “porto” são os interesses profissionais dos engenheiros para, em essência, conseguir dotar o País de infraestrutura adequada à melhoria da produtividade e competitividade da economia brasileira, para o que concorre fundamentalmente reduzir a carga tributaria, elevar e estabilizar o nível dos investimentos (24%!) e conceber e implementar competentes estratégias. É pegar a presidente pela palavra: “E vamos baixá-la (a carga tributária).” “Vamos nos defender atacando...”  “Para isso, temos de aumentar nossa taxa de investimento real para pelo menos 24%.”

Vamos atuar para apoiar a presidente que indica objetivo capaz  de criar horizonte promissor para o País e sua gente, maior patrimônio do Brasil.




segunda-feira, 9 de abril de 2012

Causas da Tragédia no Rio de Janeiro


“Não se aprende, Senhor,
Na fantasia
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão, vendo, tratando e pelejando.”
Camões
 Os Lusíadas, Canto X, Estrofe 153


As causas da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro precisam ser identificadas, estudadas e tratadas.  É inaceitável a ausência de providências por parte das autoridades, das quais não se têm notícias na imprensa, quando já se sabe da morte de no mínimo 15 pessoas.  As autoridades são governos constituídos e o Sistema CONFEA/CREAs.

Faz um ano houve a tragédia de Nova Friburgo/RJ que vitimou milhares de pessoas.  Esse ano, faz poucos dias, repetiu-se outro deslizamento.  Houve deslizamento sobre estradas nesse mês de janeiro, e por último o ocorrido com o edifício em São Bernardo do Campo –SP.

Vem de longe: “Gameleira”, “Paulo de Frontin”, “Andraus”, “Joelma”, deslizamento em Angra dos Reis, “Linha Amarela”, enchentes urbanas, acidentes rodoviários, etc.

Está havendo banalização de tragédias e também de suas consequências que são mortes de pessoas, além de prejuízos econômicos.  Avaliação de riscos não tem sido prática nas decisões de empreender.  E ainda, a não divulgação das reais causas dos acidentes têm impedido a Engenharia de evoluir para enriquecer seu acervo de conhecimentos que possibilite, no mínimo, preventivamente evitar acidentes futuros, tão graves e do vulto que têm ocorrido.  Prejuízos para os profissionais e as empresas.  Erros, mais que acertos, possibilitam aprender.

Uma coisa são acidentes, intempéries incontroláveis e/ou imprevisíveis. Outra são descasos e/ou desleixos sobre condições físicas das quais é possível ter domínio, controles, ações preventivas (“Moacyr Duarte, pesquisador da COPPE – UFRJ e especialista em situações de risco, não estranha o desconhecimento acerca do sub-solo, uma vez que registro de imóvel é ‘fraco no Brasil’” – O Estado de São Paulo, 29/1/2012).

A sociedade brasileira não pode continuar sem proteção em decorrência de inação das autoridades.  No caso em tela, Rio de Janeiro, as autoridades estão institucionalmente responsabilizadas pelos cargos que ocupam; elas dispõem de estrutura técnica para identificar as causas, e prevenir no futuro.  O Sistema CONFEA/CREA-RJ, que tem missão específica de defender e proteger a sociedade dispõe de recursos financeiros e técnicos (são 950 mil profissionais no Brasil).

As receitas do Sistema CONFEA/CREAs não provêm de orçamentos públicos, mas dos profissionais e das empresas que o mantém, e ele tem a obrigação de habilitar-se técnica e organizativamente para ações preventivas, visando proteger a sociedade.  Os produtos da Engenharia são para durar séculos e até milênios.  Esses prédios que desabaram não tem um século ainda, e pelo visto as autoridades, pelas divulgações dadas, não dispunham inaceitavelmente do “as built” e/ou outras informações importantes necessárias para garantir a segurança das pessoas que os habitavam e para preservar bens patrimoniais.  São responsabilidades profissionais inarredáveis.

Estavam fazendo, pelo visto, reformas significativas sem a fiscalização das autoridades?  Quem autorizou as obras de reformas e quem aprovou os projetos respectivos?  E se não houve autorização e aprovação a pena a ser aplicada às autoridades precisa ser mais severa ainda.  Os deveres dos cidadãos, impostos principalmente, são implacavelmente cobrados e recebidos.

O que se coloca, em primeiro plano, é a exposição depreciativa da profissão dos engenheiros e arquitetos, ao grande público.  O zêlo pelo prestígio e reputação da profissão está relegado.  A instituição (Sistema CONFEA/CREAs) que deve exercer a regulamentação da profissão precisa “recriar-se” para adequadamente defender e proteger a sociedade (por quantas mortes tem ocorrido, causadas por desleixo e descaso, culminando com a banalização de acidentes).  O que a sociedade brasileira constata é a completa omissão das autoridades sobre o acidente em tela, repetindo comportamento sobre ocorrências anteriores.  A imprensa já não fala mais do assunto, passados os dias após 29/01/2012, restando às famílias a dor por perda de vidas e aos proprietários prejuízos patrimoniais.

Nova postura e novo papel do Sistema CONFEA/CREAs são a proposição do “Movimento Recriar o CREA- SP”.



sexta-feira, 6 de abril de 2012

Páscoa

 

Tempo de Renovação


 

Desejamos aos colegas de profissão, felicidade plena:

Alegria, na maneira de viver;

Paz interior necessária para harmonia e concórdia na família – saúde é essencial;

Oportunidades profissionais para elevada realização pessoal, com o sentido de sempre compartilhá-la a nível da Nação brasileira, e da Humanidade.

Brasil – Páscoa/2012

Jomázio de Avelar

 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Casos iguais

A tragédia no Rio de Janeiro,

com três prédios a ruir trazendo a morte,
é filha do descaso brasileiro
com aspectos de risco... Fica à sorte

ou ao azar apenas, por inteiro,
decidir coisas tais, pois quem se importe
com um controle sério, verdadeiro,
parece não haver... Esse suporte

tão necessário à nossa segurança
só se sente-lhe falta após o fato
consumado, o desastre, à semelhança

do caso dos aviões em colisão
sobre a selva amazônica, retrato
da estulta negligência sem perdão...

                     29/01/2012

Oliveira Neto

Oliveira Neto
Graduação em Engenharia de Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1962), mestrado em Engenharia (Engenharia de Produção) pela Universidade de São Paulo (1969), Master of Science pela Leland Stanford Junior University California, USA (1975) e doutorado em Engenharia (Engenharia de Produção) pela Universidade de São Paulo (1980). Atualmente é professor titular da Universidade Paulista, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (Mestrado e Doutorado). Áreas principais de atuação: Qualidade e Produtividade, Probabilidade e Estatística, Processos Decisórios,Conhecimento e Aprendizado, Ensino e Comunicação a Distância, para o que desenvolveu uma metodologia denominada Educação Teleinterativa, baseada em terminais individuais para interatividade instantânea.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Em busca do simbolismo profundo

O Estado de S. Paulo, 24 de dezembro de 2011, Espaço Aberto, pag. A2

     O Natal é predominantemente uma festa cristã. O dia 25 de dezembro, porém, nem sempre foi uma data religiosa, pois até o século III esteve associado ao nascimento anual do “deus sol” na abertura do inverno. A Igreja Católica, interessada na conversão dos povos pagãos, apropriou-se da data para nela acomodar o nascimento de Jesus. Mesmo assim, o Natal continuou a ser maior do que a Cristandade e permaneceu sendo comemorado por muitos não-cristãos em diversas partes do mundo. Tornou-se o centro das festividades que celebram o fim do ano. Aos poucos, com o avanço do capitalismo e a preponderância crescente do mercado na vida das sociedades, converteu-se no grande momento econômico de cada ano, período em que empresas, comerciantes e consumidores são dominados por um afã produtivista e consumista sem paralelo.

       A dimensão econômica do Natal passou a concorrer com a força simbólica da data, concentrada na confraternização e na solidariedade. A pressão comercial tornou-se tão intensa que transfigurou algumas belas tradições populares – a troca de presentes, a refeição especial, as árvores enfeitadas, o bom velhinho –, reduzindo-as a caricaturas esvaziadas do simbolismo mais substantivo da data.

      A confraternização e a solidariedade perderam força, mas não desapareceram. Manteve-se viva a expectativa de que na última semana de cada ano o mundo deve ser contagiado por um clima diferente, de que armas e soldados devem voltar para casa ou ao menos confraternizar com seus inimigos nos campos de batalha, como dizem ter ocorrido no Natal de 1914, na I Guerra Mundial, quando soldados britânicos, alemães e franceses decretaram um armistício informal para poderem celebrar a data, com direito a trocas de presentes e disputas de partidas de futebol.

      É verdade que nos anos subsequentes do conflito os bombardeios foram intensificados na véspera de Natal para que novas tréguas não se repetissem. Nem todo 25 de dezembro é marcado pela paz e pela harmonia entre os povos. No geral, porém, o mundo parece se pacificar quando chega o fim do ano.

      Sendo assim, não custa imaginar o que aconteceria se o clima natalino passasse a preencher os 365 dias do ano. Haveria mais fraternidade e solidariedade, evidentemente, e poder-se-ia iniciar a construção de um mundo mais cooperativo e justo, menos desigual e violento, mais sério e competente para evitar que somas gigantescas continuem a ser gastas com armas e negócios enquanto centenas de milhões de pessoas morrem de fome, doenças e superexploração.

      Um mundo que não atenta para estes paradoxos é indigno de ser associado ao simbolismo natalino profundo. Falo do “mundo”, mas deveria falar de pessoas e instituições, de governantes, líderes políticos, empresários, banqueiros, intelectuais, igrejas, partidos e organizações várias, mercados e sociedades civis. Onde estão eles e por que não conseguem dar um jeito nas coisas, pavimentando estradas por onde a humanidade possa se reencontrar consigo mesma?

       Seria ingênuo demais dizer que a este mundo de pessoas e instituições falta o espírito fraterno da solidariedade, que ele se move exclusivamente por interesses egoístas, escravizado pela face demoníaca da riqueza e da acumulação de poder. Tal modo de pensar não leva em conta a dureza da vida, a direção cega dos processos econômicos, as estruturas sociais que cerceiam as pessoas em nome da ordem e da segurança. Acima de tudo, deixa de lado o caráter complexo do ser humano, esta figura simultaneamente racional e irracional, capaz de amar e odiar com igual intensidade, que acredita em deuses e bruxas mas cultiva a ciência, que é calculista e passional, ansioso e bonachão, em suma, sapiens e demens ao mesmo tempo, como gosta de falar o sociólogo Edgard Morin.

      A sociedade humana – o mundo dos homens e das instituições – não se governa com facilidade. Está sempre submetida a dinâmicas e contradições difíceis de serem controladas. E quanto mais evoluiu, quanto mais caminhou em direção à sua fase de plena globalização, mais foi ficando desafiadora. Por um tempo, entre as décadas de 1950 e 1980, a regulação dos mercados e as políticas de bem-estar ajudaram a organizar uma socialidade mais justa e menos desigual, mas isso não se espraiou pelos diferentes países.

     O planeta ficou assim mais desigual, ainda que seus diferentes povos fossem se aproximando e interagindo. Mais tarde, a desregulação tomou conta de tudo, políticas neoliberais entraram na moda, os mercados se sobrepuseram aos Estados e o império das finanças exibiu suas garras, dando um xeque-mate em governos e políticos. Muitos cederam e permitiram que mercados, finanças e Estados compusessem um sistema que se dissociou das comunidades e passou a tiranizá-las. Em 2008, este sistema mergulhou em crise e espalhou seus gases maléficos por diversas regiões, a começar dos Estados Unidos e da Comunidade Europeia.

      E é assim que o mundo irá passar os últimos dias do ano. A crise que o devasta é econômica e financeira, mas carrega consigo duas características emblemáticas: não perdoa ninguém e não pode se valer das virtudes da política. Por isso não se resolve. O sistema responsável pela crise opera de costas para a política, esteriliza-a, escancarando a impotência de partidos e líderes políticos. Com isso, despoja as sociedades de seus principais recursos de produção de solidariedade e justiça social. Indignados e manifestantes saem às ruas por toda parte e fazem ouvir a voz de seus protestos, mas não se mostram com força suficiente para plasmar outra situação. Seja como for, estão em movimento.

      Por isso, se é para nos lembramos do Natal e de seu simbolismo profundo, que pensemos por um momento, nesta última semana de 2011, nos caminhos que a política tem a oferecer para que a solidariedade possa ser celebrada de fato.
Feliz ano novo a todos.

autor: Marco Aurélio Nogueira
Prof. Titular de Teoria Política e Diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP