quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Engenharia Nacional para os Engenheiros


O Brasil ainda é um País em construção. Mesmo assim, dos atuais 950 mil engenheiros formados e habilitados para o exercício profissional, 589 mil estão fora da função para a qual foram capacitados.
Segundo a pesquisa Radar 12, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicada em março, de cada dez engenheiros prontos para assumirem suas funções seis estão fora da profissão: “Apenas 38% dos formados em engenharia estavam no mercado nas suas ocupações de formação.”
As razões vêm desde a mudança das políticas públicas na gestão da nossa economia até a inoperância das principais autarquias responsáveis pela fiscalização do exercício profissional.
Ao longo das décadas, após a Segunda Guerra Mundial, os vários governos mobilizaram os Engenheiros e a Engenharia Nacional para as grandes obras de infra-estrutura, construção de fábricas, escolas, prédios e modernização da agricultura.
Mas essa pujança produtiva perdeu espaço e hegemonia junto ao poder público para os financistas que conduziram o Brasil, infelizmente, para uma economia que transfere renda dos setores produtivos para os banqueiros e especuladores.
Ao mesmo tempo, as autarquias responsáveis pela fiscalização do exercício profissional dos engenheiros, a exemplo do CREA/SP, foram cooptadas pelo sistema financeiro e se tornaram instituições meramente arrecadadoras. A ponto de seus dirigentes se vangloriarem de acumular milhões em caixa. Quando decididamente cada engenheiro, desempregado ou não, ou fora da função sabe que não é este o objetivo de uma autarquia como o CREA/SP.
No CREA/SP, por exemplo, a grande preocupação dos atuais dirigentes é gerenciar e manipular politicamente uma bolada que supera os 150 milhões de reais por ano. Enquanto isso, Engenheiros e Empresas de Engenharia, sustentáculos da Engenharia Nacional, são abandonados à própria sorte.
Por isso, estamos discutindo com os engenheiros, empresas de engenharia e associações de engenheiros a recriação do CREA/SP.
As oportunidades para os Engenheiros surgem com o recente crescimento da nossa economia. Mas para serem aproveitadas temos que fiscalizar com determinação o seu exercício profissional. E exigir de nossas entidades representativas e do CREA/SP se manter vigilantes para preservar os níveis de investimentos produtivos.
Os Engenheiros e Engenheiras, em cada uma das modalidades, na Construção, Indústria e Agricultura são o elo de ligação entre a mão de obra disponível no Brasil, ainda vitima do analfabetismo funcional, e os grandes projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e demais obras como as da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
E já temos estes profissionais, que foram, ao longo dos anos, apoiados por suas famílias, enquanto estudantes, e que são patrimônio nacional, frutos de investimentos sociais ao longo de décadas. Pessoal altamente qualificado que não pode ser descartado por falta de fiscalização do exercício profissional. Especialmente, neste momento de retomada do crescimento de nossa economia. 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Hora de resgatar o poder dos engenheiros


Por Engenheiro Jomázio Avelar
À medida que a execução das políticas públicas brasileiras perdeu a sua vinculação com o suor da produção e o dia-a-dia da construção de indústrias, estradas e prédios os engenheiros, das mais variadas funções, perderam também a participação no poder político.
O processo da presença dos engenheiros junto ao Estado deu-se a partir de três momentos, que a grosso modo, relacionam-se a formação do grupo social dos engenheiros no Estado Imperial brasileiro, a formulação de um projeto de sociedade durante a Primeira República e a consolidação do projeto dos engenheiros ocorrido no pós-30, como relata Maro Lara Martins, mestre em sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
Mas a partir de 1964, oito entre dez ministros da Fazenda foram economistas, segundo Maria Rita Loureiro, cientista social, doutora pela USP.
“Basta lembrar que em outros países a ampliação das funções econômicas do Estado, em sua etapa contemporânea, não implicou a atribuição de postos políticos a economistas, enquanto tais”, lembra Maria Rita Loureiro.
Na França, por exemplo, o recrutamento da classe dirigente, inclusive para as novas funções de planejamento e controle da economia, foi efetuado não entre economistas, mas entre os diplomados pelas “Grandes Escolas”, como a Escola Nacional de Administração (ENA), a Escola Livre de Ciências Políticas e a Escola Politécnica. Também nos Estados Unidos, a atuação reguladora do Estado na economia não implicou a transformação do economista em dirigente político, diz a pesquisadora.
Ou seja, vivemos no Brasil, desde 1964, uma “tomada do poder” pelos economistas, que coincide com a implantação de um Estado sustentado por uma classe dominante que impôs um controle social rigoroso. Primeiro, por uma ditadura militar até 1985. Depois, por uma subordinação extremada ao sistema financeiro internacional.
Um ambiente político que, ao longo de décadas deixou de fora diversos quadros dirigentes entre eles, Mário Covas, que graduou-se em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP). Ou seu colega de turma Paulo Maluf.
Os dois, adversários políticos, criaram seus próprios caminhos para o poder. Mário Covas, que foi cassado, retorna pelo voto direto, após a anistia. Maluf desafiou os militares e derrotou Laudo Natel para o governo do Estado de São Paulo, e em seguida, após tentar e perder a eleição indireta para a presidência da República se elegeu pelo voto direto para deputado federal e prefeito de São Paulo.
Temos estes dois exemplos que se destacam num cenário em que o poder dos engenheiros, gradativa e consistentemente, é esvaziado. Reforçado pela timidez política adotada pelas principais entidades representativas dos engenheiros, que abandonam os engenheiros à própria sorte deixando que as nossas atividades sejam descaracterizadas.
Ao contrário da Ordem dos Advogados do Brasil que amplia seus espaços políticos continuamente e consolida sua posição durante a Constituinte de 88, os engenheiros brasileiros estão sem poder político, muitos em sub-emprego e o que é lamentável sem respeito social pelas suas funções.
A oportunidade de resgate é agora.
Junto com o crescimento econômico do Brasil, com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com a inclusão de centenas de milhares de novos trabalhadores na construção civil, na produção agrícola e industrial que voltam a ter nos engenheiros a grande referência para a implantação das obras públicas, da infra-estrutura e da geração de riqueza do Brasil. 

domingo, 3 de abril de 2011

A engenharia brasileira e o vôo do besouro




Por Engenheiro Jomázio Avelar
O besouro é uma afronta aos princípios da engenharia. Com aquela carapaça pesada e aquelas asinhas, ele nunca deveria voar, mas voa. O mesmo acontece quando a gente conhece de perto a mão-de-obra básica da construção civil brasileira e vê que mesmo com as dificuldades de formação escolar e de leitura ainda conseguimos construir catedrais, ao longo dos séculos, e as grandes obras de engenharia como pontes, monumentos, prédios e estradas.
Quando avaliamos o perfil dos que se ocupam da construção civil, ou trabalham no chão de fábrica ou na agricultura encontramos lá grande parte dos analfabetos funcionais brasileiros. Homens e mulheres que foram abandonados ao longo dos séculos à própria sorte, infelizmente.
Segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional, Inaf, entidade criada pelo Ibope, no Brasil 75%, ou seja, 3 em 4, das pessoas entre 15 e 64 anos não conseguem ler, escrever e calcular plenamente. Esse número inclui os 68% considerados analfabetos funcionais e os 7% considerados analfabetos absolutos, sem qualquer habilidade de leitura ou escrita.
Mesmo assim muita gente se surpreende quando se constata o padrão de excelência da Engenharia brasileira. Que se compara com as melhores do mundo. Ou seja, o besouro não deveria voar, mas voa. E nós temos uma das melhores engenharias do mundo com 75% da mão-de-obra analfabeta funcional.

Explicação do vôo do besouro — O vôo do besouro nos é explicado por Cleide Costa, do Laboratório de Sistemática, Evolução e Bionomia do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo: “O mecanismo que permite o vôo dos besouros é o conjunto dos dois pares de asas que eles têm e a musculatura vigorosa. O primeiro par de asas (os élitros) desses insetos fica em posição superior e é bastante endurecido. Quando o besouro está em repouso, funciona como um estojo que protege o segundo par. Este fica no interior, é membranoso, tem a consistência do couro e é sustentado por número variável de nervuras. Durante o vôo, as asas externas têm papel secundário e funcionam como um pára-quedas.”

Explicação do vigor da nossa Engenharia — Nossos engenheiros, em todas as suas especialidades, sempre estiveram orgânica e humanamente vinculados à mão-de-obra que gerenciam. Se vinculam visceralmente com o quadro funcional e agregam capital intelectual à natural criatividade e determinação dos nossos colaboradores.
O resultado, assim como o vôo do besouro, é termos uma Engenharia de padrão mundial, apesar do analfabetismo funcional da mão-de-obra. Que torna reais os projetos de arquitetura mais ousados do mundo, basta nos lembrar de Brasília.
Porque nossos engenheiros aprenderam a construir uma aliança com a mão-de-obra disponível Brasil afora que supera, inclusive, os entraves do analfabetismo funcional. E é em torno dos engenheiros que ergueremos um novo Brasil.
Profissionais que terão como missão a superação do corporativismo. E, ao se vincularem com a Nação brasileira, com o mesmo ímpeto com que cuidam da nossa mão-de-obra, nos ajudarão a escapar das manipulações dos especuladores financeiros, que tem influenciado nossos destinos nas últimas décadas,  para construirmos uma Nação mais justa e socialmente mais eficiente.